Novamente, é recomendável ler as partes anteriores primeiro, mas dá pra pegar o bonde andando...
Desta série, é o último dos textos longos.
Neste emprego, eu trabalhava um mínimo de 14 horas por dia, com média de 15 horas. 16 horas eram freqüentes; 18 não eram incomuns, e, nos 5 meses que fiquei nesse emprego, 5 vezes fiquei 20 horas no batente. Trabalhava 15 dias seguidos e descansava 6.
Ganhava por serviço, não por hora. O salário médio era razoável, mas nunca sabia quanto ia ganhar. As vezes, após 16 horas, ganhava C$ 40,00, outras vezes, C$300.00. Se o serviço demorasse 3 dias, C$ 300,00 era pouco.
Bem, o pé torcido pro lado ainda incomodava. O cansaço era perigoso na hora de dirigir. Nos 5 meses que fiquei nesta empresa, foram 5 acidentes, 2 fatais (3 mortes, mas ninguém que eu conhecesse. A empresa era grande e tinha várias bases).
As equipes eram formadas por 2 operários/caminhoneiros e um engenheiro.
O caminhão transportava ferramentas, alguns explosivos e os cabos de aço e de computador, além de ser o escritório do engenheiro. O engenheiro ia na Pick-Up, carregando os demais Explosivos.
O trabalho era muito pesado, as pessoas, no geral, arrogantes e ignorantes. Logo que eu cheguei na empresa, o engenheiro me chamou e me avisou sobre o ambiente e me disse: “não se esqueça, nesse meio, só nós dois temos estudo”. Já sabem como eu era tratado. O “University Boy” (termo irônico em tom de desprezo) era o burro que não sabia o nome das ferramentas...
Cinco meses... Muita perseguição... muito desrespeito... Até que não agüentei. Tive de tomar posição. Levantei a voz algumas vezes. Certa vez, por não acatar ordem (a base de gritaria e palavrões) de um colega caminhoneiro pra buscar uma ferramenta, quase apanhei. Quando ele me empurrou (e eu quase caí da caçamba do caminhão, por causa do pé), empurrei o cara de volta. Quando ele fechou a mão pra me dar o soco, pensei em milhonésimos de segundo: “se ele me bater, afundo o nariz dele; se ele bater e der as costas, afundo a nuca dele e azar da viúva e órfãos”. Ele deve ter lido isso no meu olhar, porque ele parou imediatamente. Eu fiquei tremendo muito e por muito tempo, porque eu sabia que sou forte suficiente pra ter matado ele com um único golpe.
Alguns dias depois, com o médico se recusando a me mandar pra um especialista (aqui, por falta de profissionais, o paciente só pode ir a um especialista com referência do clínico geral), decidi que era hora de ir ao Brasil. Juntei meus salários, paguei a dívida a vista (embora ainda tivesse mais um mês de carência antes da primeira de 36 parcelas), comprei passagem pro Brasil e paguei a cirurgia (não ganhava tanto quanto as pessoas achavam, mas ganhava bem e economizei muito).
8 dias após chegar no Brasil, o médico tirou o tecido cicatricial que impedia que os ligamentos recolassem no osso, assim como o pedaço de osso solto dentro do meu pé que o corpo rejeitou e causou inflamação.... Um pouquinho mais grave que “músculo atrofiado.”
Pausa pra prgunta:
Músculo fica atrofiado 11 meses pra uma pessoa hiperativa?
Nesta época, reencontrei a Lucia, o Claudio e o Fernando entre outros ex-colegas de faculdade.
Ainda estava recuperando da cirurgia quando meu irmão me ligou do Canadá... “Forr, acabei de ver na televisão que mais dois da sua empresa se acidentaram e morreram.”
Eu sabia a causa do acidente. Estava decidido: O próximo vai ser comigo novamente *. Pra este emprego não volto!
* Certo dia, trabalhamos 20 horas seguidas. Dormimos 4 horas e retornamos ao trabalho por mais 18 horas. Dois dias depois, a empresa me mandou ajudar outra equipe, onde um dos caminhoneiros quebrou o dedo e precisava substituto. Eu estava cansado... peguei a pick-up da empresa, tomei um energético e fui encontrar a outra equipe. Não senti sono. Acordei acertando uma árvore com a lateral da Silverado. Derrapei e voltei pra vala, derrapando de lado. Só não capotei porque a água estava congelada e o carro derrapou sem resistência. Parei a uns 50 cm de uma barreira de pedras, que nivelava uma estrada de ferro. Resultado: duas unhas quebradas, um eixo torto e C$ 7000.00 de prejuízo pra empresa.
Cheguei em Edmonton a noite, de carona no guincho. De manhã, me pegaram pra exame de bafômetro e urina. De lá, mais 20 horas seguidas de trabalho imediatamente após meu acidente por dormir no volante.
Ganhava por serviço, não por hora. O salário médio era razoável, mas nunca sabia quanto ia ganhar. As vezes, após 16 horas, ganhava C$ 40,00, outras vezes, C$300.00. Se o serviço demorasse 3 dias, C$ 300,00 era pouco.
Bem, o pé torcido pro lado ainda incomodava. O cansaço era perigoso na hora de dirigir. Nos 5 meses que fiquei nesta empresa, foram 5 acidentes, 2 fatais (3 mortes, mas ninguém que eu conhecesse. A empresa era grande e tinha várias bases).
As equipes eram formadas por 2 operários/caminhoneiros e um engenheiro.
O caminhão transportava ferramentas, alguns explosivos e os cabos de aço e de computador, além de ser o escritório do engenheiro. O engenheiro ia na Pick-Up, carregando os demais Explosivos.
O trabalho era muito pesado, as pessoas, no geral, arrogantes e ignorantes. Logo que eu cheguei na empresa, o engenheiro me chamou e me avisou sobre o ambiente e me disse: “não se esqueça, nesse meio, só nós dois temos estudo”. Já sabem como eu era tratado. O “University Boy” (termo irônico em tom de desprezo) era o burro que não sabia o nome das ferramentas...
Cinco meses... Muita perseguição... muito desrespeito... Até que não agüentei. Tive de tomar posição. Levantei a voz algumas vezes. Certa vez, por não acatar ordem (a base de gritaria e palavrões) de um colega caminhoneiro pra buscar uma ferramenta, quase apanhei. Quando ele me empurrou (e eu quase caí da caçamba do caminhão, por causa do pé), empurrei o cara de volta. Quando ele fechou a mão pra me dar o soco, pensei em milhonésimos de segundo: “se ele me bater, afundo o nariz dele; se ele bater e der as costas, afundo a nuca dele e azar da viúva e órfãos”. Ele deve ter lido isso no meu olhar, porque ele parou imediatamente. Eu fiquei tremendo muito e por muito tempo, porque eu sabia que sou forte suficiente pra ter matado ele com um único golpe.
Alguns dias depois, com o médico se recusando a me mandar pra um especialista (aqui, por falta de profissionais, o paciente só pode ir a um especialista com referência do clínico geral), decidi que era hora de ir ao Brasil. Juntei meus salários, paguei a dívida a vista (embora ainda tivesse mais um mês de carência antes da primeira de 36 parcelas), comprei passagem pro Brasil e paguei a cirurgia (não ganhava tanto quanto as pessoas achavam, mas ganhava bem e economizei muito).
8 dias após chegar no Brasil, o médico tirou o tecido cicatricial que impedia que os ligamentos recolassem no osso, assim como o pedaço de osso solto dentro do meu pé que o corpo rejeitou e causou inflamação.... Um pouquinho mais grave que “músculo atrofiado.”
Pausa pra prgunta:
Músculo fica atrofiado 11 meses pra uma pessoa hiperativa?
Nesta época, reencontrei a Lucia, o Claudio e o Fernando entre outros ex-colegas de faculdade.
Ainda estava recuperando da cirurgia quando meu irmão me ligou do Canadá... “Forr, acabei de ver na televisão que mais dois da sua empresa se acidentaram e morreram.”
Eu sabia a causa do acidente. Estava decidido: O próximo vai ser comigo novamente *. Pra este emprego não volto!
* Certo dia, trabalhamos 20 horas seguidas. Dormimos 4 horas e retornamos ao trabalho por mais 18 horas. Dois dias depois, a empresa me mandou ajudar outra equipe, onde um dos caminhoneiros quebrou o dedo e precisava substituto. Eu estava cansado... peguei a pick-up da empresa, tomei um energético e fui encontrar a outra equipe. Não senti sono. Acordei acertando uma árvore com a lateral da Silverado. Derrapei e voltei pra vala, derrapando de lado. Só não capotei porque a água estava congelada e o carro derrapou sem resistência. Parei a uns 50 cm de uma barreira de pedras, que nivelava uma estrada de ferro. Resultado: duas unhas quebradas, um eixo torto e C$ 7000.00 de prejuízo pra empresa.
Cheguei em Edmonton a noite, de carona no guincho. De manhã, me pegaram pra exame de bafômetro e urina. De lá, mais 20 horas seguidas de trabalho imediatamente após meu acidente por dormir no volante.
4 comments:
Primeiramente agradeço seu último comentário, me senti um verdadeiro diamante!
Você bateu com a pickup mesmo! Sempre lembro de vc qdo tomo energético, não sentir sono não quer dizer nada!
Amei a postagem!
Abraço
Lucia, o que aconteceu com seu post?
Desapareceu!
Eu ainda tomo energético de vez em quando, mas pra trabalhar com mais vigor, nunca pra ficar acordado. Acho que aprendi a lição!
Captain Forr
É... tem coisas que foram feitas para acontecer só uma vez na vida da gente. Nosso trabalho é descobrir quais são essas coisas. Que bom que você descobriu uma. Só Jesus na causa, viu!
Não é só o Brazil que tem trabalho escravo. PTL por sua libertação. Vc tem muito valor para ser esmagado na engrenagem de fazer dinheiro desses brutos. Sinto pelo Rafil, e por todos os outros...
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